domingo, 29 de junho de 2008

Pride

Ontem decorreu mais um Arraial gay em Lisboa. O que dizer ao certo sobre ele? Honestamente não sei muito bem o que falar e até me sinto um bocado cansado hoje para estar a exigir do tico e do teco um esforço suplementar para trabalharem num pedaço de literatura sobre o tema. Antecipo desde já as minhas desculpas aos eventuais leitores deste post se ele não sair nas melhores condições.

Começo então por constatar o óbvio: somos latinos, não somos nórdicos! Que influência pode isto ter na abordagem do tema? A resposta é: MUITA! Enquanto latinos estamos (ou deveríamos estar) habituados a uma cultura de rua. Devido ao clima estamos habituados a um convívio no exterior em detrimento de um convívio "indoors". No entanto, para baralhar toda esta questão, somos uns latinos conservadores o que faz com que, na maioria dos casos, contrariamente aos espanhóis, por exemplo, que em ocasiões destas nos saúdam com um caloroso "hola", nós não tendemos a meter conversa naturalmente com quem passa, mas antes deixamos-nos ficar pelo limite do olhar, da troca de olhares.

Ontem fui ao arraial. Já não ia a um penso que desde 2005 e resolvi-me a dar uma nova espreitadela ao evento. Da última vez tinha sido no Parque do Calhau, em Monsanto, ontem, pelo contrário, foi num local mais aberto, a Praça do Comércio, em plena Lisboa.

Estacionei perto do Campo das Cebolas, onde também decorria um outro arraial, este de cariz mais popular e ainda no rescaldo da tradição dos santos populares. Entre bailaricos e farturas, ao som de um "lá vai Lisboa", circundei o Ministério das Finanças para chegar até ao Terreiro do Paço, onde a batida já era outra. Ali estava a praça, com um palco numa das esquinas, rodeada por bancas dos vários bares que se associaram ao evento.

Afinal de contas o que é isto do Arraial? Deveria ser um conjunto de pessoas que se reúne para um convívio/festa. Realmente muita gente se junta, mas penso que na prática poucos realmente convivem. Chegam em grupos já formados e nesses grupos se deixam ficar. O que poderia ser uma óptima oportunidade para conhecer gente nova com gostos semelhantes não é aproveitado. No estrangeiro (e não precisamos de ir muito longe, basta irmos até aos nuestros hermanos) as pessoas falam entre si (nem sempre com vista ao engate e ao sexo fortuito) e naturalmente convivem e fazem a festa. Cá é quase como se fossem a um concerto ou a um qualquer festival de Verão.

Somos latinos mas a parte conservadora estraga-nos. Não nos misturamos, não fazemos aquilo que nos deveria ser natural - o conviver na rua com os outros, meter conversa, sorrir e dizer um simples "olá"!

Mas no global acaba por ser uma coisa interessante isto do Arraial. Por uma noite o Bairro Alto mudou-se para a Praça do Comércio e as mesmas pessoas, os mesmos grupos fazem questão de manter essa separação, mesmo sem haver as ruas ou as paredes dos bares a separá-los. De louvar a presença dos muitos estrangeiros que por lá vi e que assumem o Arraial como algo natural para eles e, esses sim, vão para lá com o espírito do que afinal aquilo deveria ser: uma festa! Houve momentos em que dei por mim a pensar se a música do outro arraial (o do Campo das Cebolas) ali estivesse, com uma fogueira para se saltar (como antigamente se fazia), não acabaria tudo por ser um pouco mais animado! Afinal de contas não tem a ver com isso a tradução da palavra Gay? Alegria? Festa?

Conluindo, penso que por uma noite podiamos todos deixar de ser um pouco tugas e ser um pouco mais gays! Afinal há uma crise instalada e precisamos de tudo o que nos afaste o pensamento das dificuldades do quotidiano! Por isso grito: Abaixo o tuguismo! Viva o gayismo!

1 comentário:

ludo disse...

Aqui no Brasil denominamos de carão.
Tá impregnado, principalmente nas baladas "phynas"