Fiquei tão emocionado que quase chorei! É verdade! Esta semana, ao ver na televisão a conferência de imprensa do presidente da Galp Energia, senti um tal fluxo de emoções percorrer
o meu corpo que me senti quase como se estivesse a ver os desenhos animados do Tom & Jerry.
Hoje às 0:00h, o preço dos combustíveis voltou a subir. De acordo com o erudito senhor, tal aumento deve-se às circunstâncias internacionais, as quais ele não consegue controlar e vê-se repetidamente forçado a espelhá-las no preço final dos combustíveis. E foi com dor e consternação que ele se afirmou condoído perante o facto de os portugueses terem que suportar tal factura, apontando o dedo incriminatório à carga fiscal que recai sobre os produtos petrolíferos.
Realmente eu vejo-me forçado a ter que parabenizar os gestores da Galp. Como é possível a uma petrolífera que, aparentemente, só compra o petróleo quando ele atinge os seus máximos (quando se sabe que pelo menos esse mesmo petróleo demora uns três meses a chegar, já refinado, aos consumidores) consiga ter os lucros que apresenta quando labora num país com uma carga fiscal tão pesada?
Dizem que o Estado fica, em impostos, com cerca de 0,80€/litro. Ora isso significa que o resto é lucro para a petrolífera. Valor esse que, acredito, cobre os custos da compra do crude, refinação e distruibuição.
Depois veio a notícia que afinal os preços já não aumentaram. Dizem que houve uma confusão interna. Um tal mal-entendido. Afinal uma grande empresa é como um organismo vivo. Se calhar a Galp estava com gases (seria essa a confusão interna?). Não sei. Entre ordem e contra-ordem uma pessoa baralha-se.
Parece-me (e até acredito que seja isso o que tenha acontecido) que o Estado tenha exercido o poder que detém na Galp (graças à goldenshare que mantem) e alguém terá ligado à administração da Galp e terá dito «ó meus senhores, vamos lá a parar com isso».
Eu comparo uma evolução que notei nos combustíveis entre Portugal e Espanha. Tudo bem que o IVA e outros impostos sejam mais baixos em Espanha. Mas mesmo assim é válida uma comparação. Ora vejamos: no dia 1 de Maio, em Badajoz (curiosamente num posto da Galp), atestei o carro e a gasolina sem chumbo de 95 octanas estava a 1,17€/litro. Em Portugal estava a 1,44€/litro. No dia 18 de Maio atestei novamente em Espanha, desta feita em Ayamonte, e paguei 1,08€/litro. Em Portugal pagaria 1,47€/litro.
Muito bem. A carga fiscal é diferente nos dois países. Mas o sentido da evolução do combustível é diferente de um e de outro lado da fronteira. E venham-me então dizer que não há marosca na fixação dos preços em Portugal. A autoridade da concorrência já anda a investigar. Vamos ver a que conclusões chegam: se à verdade ou se a um novo atestado de estupidez ao povo de Portugal?
Quando falamos nestas questões tendemos a pensar apenas na gasolina. Mas não nos podemos esquecer de outras coisas, que acabam por estar encadeadas entre si. A maioria da electricidade produzida em Portugal é conseguida em centrais termos electricas, isso significa que há uma máquina a queimar combustivel para produzir electricidade. Muitas empresas vão ver os custos de produção aumentar (electricidade, distribuição porque os camiões não andam a água, etc.) o que vai significar um aumento do custo de vida e da inflacção em Portugal. E lá continuaremos a ser os mais pobres dos pobres do velho continente, onde as desigualdades sociais cada vez mais vão ser evidentes. Onde vai tudo isto parar? Não quero nem pensar nisso!