sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Figura de urso

Há uma canção que conta "shame on you if you fool me once, shame on me if you fool me twice"! Não é bem o caso aqui, mas na prática pode aplicar-se quase na perfeição. O "you" não é o mesmo, mas o certo é que a minha ingenuidade, o meu acreditar, me levou a ser "fooled twice"!

Há muito tempo já que não tinha ninguém e, out of the blue, me apareceste tu! Ainda me recordo do que senti quando te vi ao vivo pela primeira vez. Era de noite, estavas a sair do carro e olhaste para mim, e eu senti toda uma corrente de energia a percorrer-me o corpo, algo que me fez sentir vivo, vibrante, como há muito não sentia (e não, não era o telemóvel no bolso a vibrar).

Foi estranho aquele primeiro encontro. Convidei-te para um chá, mas afinal não eras grande apreciador de chá. Falámos por um longo período (como era habitual em nós), sentados no sofá, eu controlando-me para não sentir o sabor do teu beijo.

No dia seguinte ambos tínhamos vontade de nos voltar a ver. De voltarmos a estar juntos. Ambos com vergonha de dar o primeiro passo a convidar o outro. Disseste-me que tinhas uma proposta inviável e sugeriste-me um solitário e patético passeio a pé por onde vivo. Então eu sugiro um novo encontro! Queria era estar contigo de novo! E tu aceitaste!

Acabámos por ir ao cinema e depois voltámos para tua casa. Onde mais uma vez ficámos até às tantas à conversa mas, desta vez, com uma grande diferença, ficámos deitados no sofá, abraçados um ao outro, a sentir e a apreciar aquele momento único. A custo nos separámos e combinámos novo encontro para Sábado, o que te leva a enviar-me uma sms com os dizeres "Como se costuma dizer: Nunca mais é Sábado". E eu sorrio com estas mensagens. Fazes-me bem, fazes-me sentir leve.

O tempo foi passando, com alguns ajustes de parte a parte, como é natural em duas pessoas que se gostam e que se estão a conhecer melhor! Fiz coisas que te desagradaram, tomaste atitudes que me desiludiram. Mas tudo isso faz parte natural de um processo de crescimento e maturação daquilo que se pode chamar "relação", porque nos mantivemos juntos, porque sabíamos (embora por vezes duvidássemos e até nos custasse a acreditar nisso) que gostávamos um do outro.

Assustava-te o eu não dizer nada, o não perguntar nada e agir como se a tua situação não me preocupasse ou afectasse. Mas sempre te disse que era a minha maneira de respeitar o teu tempo. Falarias quando sentisses que deverias falar, tal como eu te contaria partes minhas quando achasse que o momento era o oportuno.

Assustava-me o tu gostares de mim e, por várias vezes, me disseste que não acreditava em ti quando mo dizias. Em parte era verdade, fruto de inseguranças minhas, como mais tarde te confessei. Também a ti te assustava o eu dizer que gostava de ti e, embora possa parecer estranho, era algo que nos unia.

Vivias uma situação muito particular, para a qual procurei sempre ter em consideração e, mesmo quando tomavas atitudes que me magoavam profundamente, eu procurava compreender, não só porque gostava de ti, mas porque sabia a pressão que caía sobre ti! E tu gostavas de mim e, num dia específico, enviaste várias sms a dizer "por favor espera, não te vás embora", quando tinha bastado a primeira para me fazer ficar a tua espera.

Por vezes ficava zangado, magoado, fulo da vida, mas com uma piada tua ou um olhar teu eu sorria e dizia também uma piada e tudo ficava bem.

Depois mudaste de casa e eu achei que isso seria uma libertação para ti, um grito de liberdade face a certas coisas que te prendiam e, no meio da tua dúvida e receio, eu apoiei-te, porque vi que seria bom para ti e, porque não dizê-lo, bom para nós.

Gostavas de mim! Um dia, num sussurro disseste que me amavas. E novamente o repetiste porque eu não tinha ouvido bem. E tudo foi maravilhoso. No dia a seguir esqueceste-te de mim e, pior que tudo, que tinhas dito que me amavas. Não sei se não te lembras mesmo ou se o peso da palavra te assustou (que eu cobardemente só lhe correspondi mais tarde por sms).

Se num momento tudo parecia correr bem, no outro tudo começou a desabar. Quase como se eu já não fizesse parte da tua vida, como se fosse algo secundário. No meio do aperto pedes-me um espaço, mas ao mesmo tempo pedes para eu não me afastar.

Durante esse espaço ages como se eu não existisse e eu fico numa plena agonia. Sem saber como agir, sem saber o que dizer, com medo de te desagradar, com medo de te perder.

Mas o certo é que te perdi! Dizes que gostas de mim, mas que não estás pronto para uma relação. Apesar das várias propostas e modelos que te fiz, de coração na mão, a tremer por dentro, tu só me repetias "agora não". Justificas esse agora, mas eu penso que lá no fundo tens medo! Medo do futuro, medo do que possas sentir e então preferes um corte já, agarrado a uma justificação racional.

Ao mesmo tempo dizes que não me queres perder, que continuas a gostar de mim mas que me queres ter como amigo. Não sei como o consegues fazer, como falas como se nada fosse, como se nada tivesse acontecido enquanto eu estou ali, a teu lado, completamente desfeito. Eu não consigo ser assim, como se houvesse um interruptor que se aperta e ora se passa a ser amigo, ora não.

Sinto que fiz figura de urso! No meio disto tudo fiz figura de urso! Lutei por algo, lutei por ti, tentei não te desagradar (mesmo não tendo sido perfeito) para não te perder e, no entanto, perdi-te. Aliás, já estavas perdido à priori e eu, feito estúpido, deixei-me acreditar que haveria esperança para um recomeço.

Estou muito magoado com tudo e sabes disso. Sabes como me sinto e o sinto por ti! Não quero ser injusto contigo. Eu não me portei bem no global porque exigi e pressionei demais. Tu também não foste verdadeiramente sincero. Como tu próprio dizes foste egoísta durante um tempo!

Em escritos teus te queixavas de as pessoas não se entregarem. De complicarem as coisas. De complicarem o simples. Parece-me que o teu medo do que possa ser (ou da tua força ou do que queres) também te está a fazer complicar e esquecer o simples.

O certo é isto: eu gosto de ti! Tu dizes gostar de mim! Mas não me queres... "agora não"!

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