sábado, 22 de março de 2008

Mudança Pascal


Já dizia Camões que todo o mundo é composto de mudança. É verdade! Os tempos mudam e com eles muda tudo também. Cristianizaram-se festas pagãs ou já existentes noutras religiões por forma a uma maior aceitação de uma religião emergente. Mas isso aconteceu já há muito tempo e não é desse aspecto que aqui venho falar.

Venho falar da Páscoa e de como ela evoluiu ao longo do tempo. Mas não ao longo de um tempo qualquer. Ao longo do meu tempo.

Quando eu era criança a Páscoa funcionava um pouco como uma festa de comunhão entre padrinhos de baptismo e afilhados. Era costume os primeiros oferecerem aos segundos fios ou pulseiras em ouro (ou algo do género).

Depois nascem os dentes. E em vez dos adultos procurarem o melhor para a dentição dos seus infantes, surge no universo da criança duas coisas maravilhosas associadas à Páscoa: as amêndoas (de tipo francês) e os ovos de chocolate.

É nesta altura que o cérebro da criança se baralha todo ao mesmo tempo que a gula se delicia. Ora se o ovo vem da galinha, o que faz a figura de um coelho associado ao ovo? É a tentar responder a esta questão de supra pertinência para a mente infantil que podíamos observar magotes de crianças a analisar (no verdadeiro termo das quatro primeiras letras da palavra) os coelhos.

O tempo passa e a criança cresce. As amêndoas mantêm-se mas, por norma, os ovos desaparecem. No entanto, em compensação, surge o dinheiro. Que é o que as pessoas dão quando não sabem o que hão-de oferecer às outras e não querem ficar mal-vistas. O coelho também desaparece, deixa de ter a sua magia.

O hábito, a tradição e o ímpeto comercial tomam conta da coisa e a Páscoa passa a ser uma oportunidade para se ir passear. Ou para ir visitar parentes ou mesmo simplesmente para se ir para fora de casa porque simplesmente as pessoas não sabem o que hão-de fazer quando têm tempo livre. Então saem. Saem de casa porque todos os outros saem também. Não há dinheiro? Não faz mal. Há créditos de fácil acesso. Mais uma prestação a pagar e depois passa-se o resto do ano a comer azeitonas. Mas ao menos foi-se para fora. Aproveitou-se alguma coisa de útil? Se calhar nem por isso. Mas pode-se depois voltar ao local de trabalho e contar como o fim-de-semana foi passado em filas de trânsito, em locais apinhados de gente (uma canseira), numa correria doida. Mas ao menos foi-se para fora. O que iriam ficar as pessoas a fazer em casa? A aproveitar a companhia umas das outras e a conviverem? Naaaa...

Os tempos mudam...

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