sexta-feira, 25 de abril de 2008

O preço da Liberdade

Já lá vão 34 anos desde que um grupo de militares, em revolta face a uma questão de pagamentos se reuniu, dando origem a um movimento que, depois de politizado e partidarizado, acabou por desembocar naquilo que ficou conhecido como a Revolução dos Cravos, no ano de 1974 a 25 de Abril, que veio colocar o fim a um regime e instituir um outro em seu lugar.

Não venho aqui discorrer nem sobre política nem sobre as motivações do que realmente foi a Revolução de Abril de 74. Venho falar do "pós". Uma análise rápida e sintética do que transformou este país que dá pelo nome de Portugal.

De um Portugal "amordaçado" vieram-se retirar essas mordaças e daí surgiu o grito. O país gritou a alto e bom som, como se pode ver no primeiro primeiro de Maio após o 25 de Abril, ou seja, o 1 de Maio de 1974. Depois desse grito estrondoso, em que quase 50 anos de receios e medos eram libertados passou-se a uma espécie de 10 anos de marasmo no país. 10 anos em que houve uma luta pelo Poder no país.

Chegamos então a 1984/85 em que houve finalmente alguma acalmia. Houve uma melhoria económica graças não só ao trabalho do FMI em Portugal, mas principalmente graças à posterior entrada de Portugal na CEE, com os seus respectivos fundos.

De lá para cá as coisas são o que se tem visto. Entrou-se num rotativismo político que provoca os mesmos danos que provocou em finais do século XIX: um desgaste da vida política, dos políticos, dos partidos, das instituições e de tudo o que lhes esteja directa ou indirectamente ligado. A generalidade da população afasta-se do intervencionismo que caracterizou os tempos imediatos a Abril de 1974, em que as pessoas sentiam e notavam que verdadeiramente poderiam fazer a diferença. Hoje em dia acomodaram-se e numa conversa sobre política surge sempre a máxima "são todos iguais!".

A nível social houve também uma clara (des)evolução! As pessoas na euforia do seu grito descobriram que tinham direitos. Começaram a manifestar esse sentimento em cada ocasião que se lhes apresentava. Transmitiu-se às gerações mais novas o ideal desses direitos e da sua natural reivindicação. Passou-se do 8 ao 80. Esqueceu-se que, aliados aos direitos também vêm os deveres. Mas falar em deveres ou alertar para a sua existência foi considerado como sendo "salazarista", "fascistas" e outros "istas" que tais. Foi o erro. Ainda não se encontrou um meio termo. Pior que isso. Parece notar-se que ao poder político não importa que se alcance esse meio termo. Compensou-se essas falhas com alguma ilusória prosperidade material, em detrimento daqueles que seriam os verdadeiros valores de uma verdadeira democracia.

Não interessa ao Poder Político ter uma sociedade instruída e interventiva, livre da permeabilidade propagandística. Torna-se mais difícil governar assim. Mais difícil conseguir rápidas fortunas. No entanto eu penso que deveria ser bem mais apelativo governar um país que se preocupasse com o seu futuro, que soubesse intervir e cumprir as suas obrigações em prol do melhor futuro para esse país.

Muitas vezes parece-me que se governa não em prol de um ideal comum do país, mas antes em beneficio dos interesses político-partidários.

Temos a democracia que merecemos e que deixámos que construíssem à nossa volta. Resta saber se o preço desta tão aclamada liberdade realmente compensa ou se, na prática, não estamos a hipotecar o futuro ao criarmos um país de acomodados que na prática continuam a viver com medo?

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