quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

As crianças

As crianças são uma coisa verdadeiramente interessante. Crescem e vão desenvolvendo o seu intelecto de uma forma maravilhosa. Passam por várias fases. Aquela que mais me encanta é a da descoberta das palavras. As crianças descobrem uma palavra e repetem-na vezes sem conta, em toda e qualquer ocasião, fingindo ser adultas, fascinando os adultos ao seu redor.

A criança decobre a palavra "puta" e, sem pudor, repete-a. Os adultos riem-se e acham-lhe piada. Só falta darem saltinhos e baterem palmas. Depois a criança aprende a palavra "cona". Ui! É o delírio dos pais. Até chamam visitas lá a casa para ouvirem o seu pequeno Einstein.

A criança repara que o que lhe sai da boca entretem os adultos e, por isso, habitua-se a ser o centro das atenções, com as luzes da sua ribalta sempre acesas. Depois algo estranho acontece. Aquelas palavras, que antes tanto divertiam os pais, passam a ser consideradas proíbidas e feias.

E o cérebro da criança começa a baralhar-se todo. A palavra é a mesma. A criança é a mesma. O que mudou para a palavra já não surtir o mesmo efeito? O que mudou foi que a criança cresceu. E começa um novo caminho cheio de novas aprendizagens para os seus pikatxus (o tico e o teco estão ainda em fase embrional).

A criança entra na Escola e aprende novas palavras, novos conceitos. A sua imaginação fervilha com novas informações. A sua curiosidade é aguçada. Quem lida quotidianamente com elas está sempre a aprender algo de novo sobre a mente e o universo juvenil, sobre a forma como o pensamento é desencadeado dentro daquelas cabeças minúsculas por uma qualquer nova informação que é recebida.

Então podemos assistir a diálogos destes (sobre o papel das mulheres na sociedade ateniense no século V a.C.):

Aluno: Então e o que acontece se a mulher de um cidadão trair o marido?

Professor: Depende. Se ele descobre ou não.

Aluno: Vamos imaginar que ele descobre.

Professor: Nesse caso, o cidadão fica muito contente e convida a mulher para um pic-nic (não reproduzo aqui a palavra piquenique porque a considero muito grande. Ops! Acho que acabei de a reproduzir!). Imaginem que era aqui na zona de Lisboa. Ele ia passear com ela até ao Cabo da Roca e, em grego, dizia-lhe: "Querida anda aqui à ponta ver o mar. É bonito, não é? Espreita lá para baixo! - e o professor faz o gesto de empurrar alguém.

A turma ri-se da piada, eis senão quando surge uma voz que diz:

Aluna: Óh! Ela podia saber nadar!

Toda a turma faz um gesto único ao olhar incrédula para as palavras da colega.

O que pensar perante esta situação? Chegou lá? É isso mesmo! Aquela aluna vai ser ministra!

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei do toque final...muito esclarecedor! LOL