quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Diferenças

Hoje resolvi colocar aqui um artigo que já escrevi há uns bons anitos. Pediram-me para escrever sobre os problemas que afectam as famílias modernas e o choque que eles trazem à sempre visão tradicional familiar que, quer queiramos quer não, trazemos quase que imbuída nos genes, fruto da nossa herança judaico-cristã.


«Pai, mãe, dois filhos. O pai trabalha, a mãe ocupa-se da gestão da casa e da educação dos filhos. Este era até há não muito tempo atrás o modelo de família perfeito. Nas últimas décadas do século XX este modelo veio sofrendo alterações profundas que acompanharam também o evoluir da sociedade moderna. Hoje em dia são variadas as questões com que o tradicional modelo familiar se debate. Isto não significa que anteriormente estas questões não existissem já no seio familiar, a diferença está em que, actualmente, elas são alvo de uma discussão mais aberta a nível social.
Questões como a droga, a sida, o monoparentismo, o alcoolismo, a homossexualidade ou a violência tocam, em maior ou menor grau, todas as famílias, indiferentes a raças, credos ou classes sociais. A grande diferença está na forma como cada família acaba por lidar perante esse novo desafio que o destino lhe coloca. Quando este surge, tudo parece desabar: sonhos projectados e planos sonhados acabam assassinados por uma realidade mais fria e cruel do que a do sonho, uma realidade em que todos sofrem. Por norma, a primeira reacção costuma ser sempre a da rejeição em que, ao procurar ignorar o facto, se espera que este simplesmente não exista. Uma segunda reacção apresenta características mais egoístas, surgindo sempre a questão do porquê, porquê esse que vem sempre acompanhado da expressão “a mim”. Depois segue-se o sentimento de culpa, “onde errei?”, que afecta todos os elementos do grupo familiar, uns por sentirem que desapontaram, outros por se acharem defraudados. Vem depois o grande e verdadeiro desafio, em que a estrutura familiar, pais e filhos, em que todos mostram a sua verdadeira maturidade e capacidade de se amarem e respeitarem. Chega a altura em que se repara que nada mudou, em que muitos dos nossos medos e receios são injustificados, em que o grande “problema” apenas não passava de um pequeno pormenor. Nada mudou, todos continuam os mesmos que eram antes do supracitado desafio. A diferença está em que o que antes era o consumidor segredo de uns passou a ser a verdade conhecida de todos.
Costuma-se dizer que o óptimo é o inimigo do bom ou, por outras palavras, não existem famílias perfeitas, antes pelo contrário, atrever-me-ia a dizer, se a expressão me é permitida, que a perfeição está na imperfeição familiar. Quero com isto dizer que todas as famílias têm situações com as quais são forçadas a lidar no seu quotidiano, situações essas que vêm, de uma forma ou de outra, abalar a tranquilidade familiar. Este abalo é, em grande medida, salutar, pois uma família é constituída por indivíduos que, apesar de partilharem fortes laços afectivos desde o nascimento, têm identidades e personalidades distintas. É na aceitação destas diferenças e no respeito pelas mesmas que se vai fortalecendo o elo que nos une aos nossos familiares. Para rematar convém apenas relembrar que, antes de julgar os outros, nos devemos lembrar que não somos perfeitos e que, um dia, poderemos ser nós a ser julgados pela nossa intolerância para com aqueles a quem, no passado, apontámos o dedo apenas pela razão de existir a diferença, mas que nunca parámos para pensar quem realmente será diferente: se nós, se os outros?!»


Para ilustrar este texto resolvi usar um dos trabalhos daquele que considero ser o melhor fotógrafo que existe no site http://www.olhares.com/ (J.P.Sousa). Espero que ele não leve a mal a ousadia.

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