sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

O rio Piedra

Há alturas em que penso que não sou uma Slut normal. A sério! Para terem um exemplo. Li "O processo" do Kafka quando tinha uns 13 anos e aos 14 já tinha lido "Os miseráveis". Confesso que comecei a ler um pouco tarde. Recordo-me de, ainda criança, os meus pais me terem oferecido livros e eu não ter gostado porque os livros não tinha "bonecos", como eu dizia na altura.

Adorava os livros de banda desenhada, principalmente os do Asterix ou do Lucky Luke. Divertia-me a ler todas estas histórias, que me fascinavam, juntamente com os bonecos da Playmobil.

Comecei a ler relativamente tarde. Mas quando comecei não mais parei. E como penso que é natural, comecei por ler os livros que havia em casa, devorando a biblioteca dos meus pais. Iniciei-me então na leitura pelos ditos clássicos. Autores como Steinbeck, Dumas, Forsyth, Malaparte, Pearl S. Buck, Moravia, Tolstoi, passaram a fazer parte do meu universo. Dar o salto para os clássicos portugueses foi tarefa fácil e, de todos, Eça é o meu preferido.

Leio rápido. Por norma sigo o ritmo de um livro por semana. Mas há alturas em que a leitura é mais rápida. E é de uma dessas alturas, nomeadamente de uma noite mal dormida, que venho aqui falar.

Houve um dia em que estava com dificuldades em adormecer. Bebo café à noite e depois passo o tempo deitado na minha cama, às escuras, a olhar para o tecto e a tentar adormecer. Nesse dia resolvi pegar num livro que já tinha comprado há algum tempo, mas que ainda não tinha tido oportunidade de ler. Refiro-me ao Na Margem do Rio Piedra Eu Sentei e Chorei, do Paulo Coelho.


E porquê falar deste livro? Vinha eu a conduzir, do trabalho para casa, quando dei por mim a pensar na ironia das coisas. Eu que cedo li autores que muita gente nem sequer pegou, deixei-me impressionar por uma obra com uma escrita que considero bastante simples.

Para quem não leu, do que fala este livro? Conta-nos a história de uma história de amor. Dois personagens principais, Pilar e seu companheiro conheceram-se na infância, afastaram-se na adolescência, e - onze anos depois - tornam a se encontrar. Ela, uma mulher que a vida ensinou a ser forte e a não demonstrar seus sentimentos. Ele, um homem capaz de fazer milagres, que busca na religião uma solução para os seus conflitos. Os dois estão unidos pela vontade de mudar, de seguir os próprios sonhos, de encontrar um caminho diferente. Para isto, é preciso vencer muitos obstáculos interiores: o medo da entrega, a culpa, os preconceitos. Pilar e seu companheiro resolvem viajar até uma pequena aldeia nas montanhas - e trilhar o difícil caminho de reencontro com a própria verdade.

Porque me deixou a pensar este livro? O que faz uma obra grande? A complexidade das palavras e da escrita utilizadas ou a universalidade da mensagem que transmite? Penso sinceramente que qualquer texto que nos faça parar um pouco, olhar para nós próprios e nos faça reflectir ou mudar algo nas nossas vidas, ou seja, um livro que acaba por nos influenciar de alguma maneira, é um bom livro.

Este, como disse, é um livro simples, com uma história simples. No entanto a mensagem que transmite é forte. Um apelo a lutarmos contra a tendência fácil do comodismo em que muitas vezes caímos na nossa vida, inclusive a nível emocional. O dom de arriscar, de vencer o medo, de caminhar em frente, de ser audaz, de lutar por tudo aquilo em que acreditamos, de vivermos a vida de peito aberto, de não desperdiçarmos os dias que passamos neste mundo.

É um livro simples. Uma escrita simples. Mas dá que pensar!

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